Copa do Mundo - 1950
Brasil
Rio Grande do Sul
Porto Alegre
A Capital Gaúcha
é uma das sedes
No
Congresso da Fifa em Paris, o representante da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), jornalista Célio de Barros, lançou a candidatura
do Brasil a país-sede do Campeonato
Mundial de Futebol de 1942.
O
presidente da FIFA, Jules Rimet
recebeu a proposta e agradeceu o entusiasmo, porém deixou claro que a Alemanha
era a preferida. Os tedescos apresentaram sua postulação um par de anos antes e
já tinham sediado com sucesso os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936 – assim,
levavam ampla vantagem na corrida.
Os
figurões do futebol só não contavam com os delírios germânicos de Adolf Hitler, que em 1939
entrou na Polônia e transformou o mundo em uma praça de guerra nas
temporadas seguintes, impossibilitando assim a organização do quarto torneio
mundial do jogo criado pelos ingleses.
A
II Guerra Mundial impedira a
realização dos Mundiais de 1942 e 1946, e a entidade máxima do Futebol pretendia realizar a
próxima competição em 1949.
Objeto do Desejo
Taça Jules Rimet
Finda
a batalha, depois de seis longos anos, era hora de ressuscitar a competição,
que simplesmente caiu no colo do Brasil – a Alemanha, por motivos óbvios, era
carta fora do baralho.
O
Brasil, que já era candidato a ser sede da Copa de 1942, novamente lançou sua
candidatura, com a condição que a competição fosse realizada em 1950.
Em 1946, um novo Congresso da Fifa, em
Luxemburgo, Jules Rimet chancelou a
candidatura única brasileira e confirmou o país como anfitrião da Copa do Mundo de Futebol de 1950.
O
Brasil começou seus preparativos.
As Sedes
Seis
cidades brasileiras foram escolhidas como sedes:
Belo Horizonte - MG,
Curitiba - PR.
Porto Alegre - RS,
Recife - PE,
Rio de Janeiro - DF,
Curitiba - PR.
Porto Alegre - RS,
Recife - PE,
Rio de Janeiro - DF,
São Paulo - SP,
Os Estádios
Logo
a seguir, começou a discussão sobre os estádios que sediariam a Copa no Brasil.
Em maio de 1948, a dois anos do primeiro Campeonato Mundial de Futebol do
pós-guerra, os preparativos para o torneio no Brasil seguem a passos de
tartaruga.
Os
cartolas da Federação estão preocupados.
O moderno estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo: - um dos poucos campos prontos para receber a Copa do Mundo.
Estamos
agora a pouco mais de dois anos do início do certame – portanto, na metade do
caminho entre a confirmação da entidade máxima do esporte e a data prevista
para o pontapé inicial da partida de estréia.
–
E o torcedor se pergunta: – Como andam os preparativos para receber as
dezesseis nações da elite do esporte bretão?
–
A resposta, infelizmente, é bem brasileira: – Não andam.
Ainda
não foi montado sequer um comitê para tratar das inúmeras questões que envolvem
a estruturação de tão complexo evento – nos bastidores da CBD - Confederação Brasileira de Desportos, é comentada a criação
de um Diretório Geral destinado a
cuidar do assunto, mas este ainda não saiu do papel.
–
O tempo urge.
Além
disso, a maioria das capitais brasileiras conta apenas com estádios de porte
médio, sem a envergadura necessária para receber as pelejas do torneio máximo
do futebol internacional.
Na
verdade, dos seis estádios usados no Mundial, apenas dois (o Maracanã, no Rio
de Janeiro, e o Independência, em Belo Horizonte) foram construídos
especialmente para o Mundial.
Vila Capanema
– Em Curitiba, com o Durival Britto e Silva, modernas praças esportivas inauguradas nesta década, são as exceções.
– Em Curitiba, com o Durival Britto e Silva, modernas praças esportivas inauguradas nesta década, são as exceções.
Entrada do estádio
O
Estádio Durival Britto e Silva (Vila Capanema) era pertencente ao então Clube
Atlético Ferroviário (atual Paraná Clube), tinha capacidade, na época, para
aproximadamente 10 mil pessoas e recebeu 2 jogos.
A Vila Capanema como é conhecida
Independencia
– Em Belo Horizonte, os estádios de América, Cruzeiro e Atlético são acanhados até mesmo para receber os torcedores das equipes locais; não à toa, o prefeito Otacílio Negrão de Lima, quando assumiu o cargo, destinou polpuda verba para solucionar o que classificou de "imperioso problema" dos estádios da capital mineira.
– Em Belo Horizonte, os estádios de América, Cruzeiro e Atlético são acanhados até mesmo para receber os torcedores das equipes locais; não à toa, o prefeito Otacílio Negrão de Lima, quando assumiu o cargo, destinou polpuda verba para solucionar o que classificou de "imperioso problema" dos estádios da capital mineira.
O
pequeno Sete de Setembro de Futebol e Regatas aproveitou-se do oferecimento e
começou a levantar uma praça esportiva projetada para acomodar 45.000 pessoas,
mas as obras seguem em ritmo moroso – se ficarão prontas a tempo da Copa, é uma
incógnita.
Construcão do Estádio Independencia
Eucalíptos
– Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional deu início a uma campanha para reformar sua casa, o Estádio dos Eucaliptos, com capacidade para 10.000 torcedores.
– Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional deu início a uma campanha para reformar sua casa, o Estádio dos Eucaliptos, com capacidade para 10.000 torcedores.
Projeto original dos Eucalíptos
O principal objetivo é transformar o pavilhão de madeira da rua Silveiro em uma arquibancada de concreto. Mas o projeto também não tem prazo para ser concluído.
Ficou assim o estádio
Colosso Polêmico - Maracana
– Rio de Janeiro, a maior preocupação, porém, vem do Distrito Federal. O futuro Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o cartão-postal do campeonato mundial aos olhos do mundo, ainda não saiu da estaca zero. Previstos para o início deste ano, os trabalhos de construção do gigante do Maracanã não começaram, o que já causa apreensão entre os dirigentes da Fifa.
Mário
Filho (dir.) observa a maquete do projeto original do Maracanã, na década de
1940
(Arquivo Maracanã)
Emissários da entidade devem desembarcar em breve no Rio de Janeiro a fim de acompanhar os próximos passos desta difícil gênese.
Afinal, o estádio vem sendo alvo de polêmica desde que a prefeitura anunciou a abertura da concorrência para sua construção – defendida em campanha popular encabeçada pelo cronista Mario Filho, do Jornal dos Sports.
O vereador Carlos Lacerda, da UDN, fez intensa oposição ao projeto na Câmara Municipal. O udenista não concordava com a localização da praça anunciada pela prefeitura (o antigo terreno do Derby Club) nem com sua capacidade (150.000 pessoas), preferindo um estádio de 60.000 lugares em Jacarepaguá.
Colega de vereança e partido de Lacerda, o compositor Ary Barroso conseguiu apoio suficiente entre a bancada comunista e garantiu a aprovação do projeto.
Selecão Brasileira
Alheio
a essas pendengas, o técnico do escrete nacional, Flávio Costa, espera que a perda da Copa Rio Branco para o Uruguai, no mês passado, não abale o moral
dos jogadores – que, a bem da verdade, terão muito tempo para esquecer esse
revés.
O
próximo compromisso oficial da seleção, o Campeonato
Sul-Americano, a ser disputado também no Brasil, está marcado apenas para
abril do ano que vem.
A
grande novidade da participação brasileira em Montevidéu foi a estréia do
guarda-metas Barbosa, que já vinha
se destacando havia algum tempo com a camisa do Vasco da Gama. O atleta de 27
anos teve boa atuação no empate de 1 a 1 contra a Celeste Olímpica, e deve
ameaçar a posição de Luiz Borracha,
arqueiro do Flamengo, titular de Flávio
Costa nos últimos três jogos da Seleção.
No
prélio seguinte em terras meridionais, Luiz
Borracha voltou à meta, mas não pôde evitar a derrota brasileira por 4 a 2
para os campeões mundiais de 1930. Olho neles.
Em 08 de Junho de 1950, o Brasil fez o último jogo
treino antes da estréia na Copa do Mundo
de Futebol de 1950, onde a Seleção
Brasileira goleou a Seleção Gaúcha
pelo placar de 6x4.
A
ala esquerda no ataque: - Jair Rosa
Pinto e Chico.
Em Porto
Alegre
Até 1947, a obra do Estádio Municipal era dada
como certa, aos poucos foi sendo abandonada, diante dos custos que acarretaria.
Até o início de 1948, os jornais debatiam
sobre a construção do Estádio Municipal.
Os
principais estádios de Porto Alegre, na época, eram a Baixada, do Grêmio, a
Montanha, do Cruzeiro, a Timbaúva, do Força e Luz, e os Eucaliptos, do
Internacional.
–
O Estádio da Baixada era usada pelo Grêmio praticamente desde sua fundação,
tendo sofrido reformas ao longo de quase 50 anos.
–
O Estádio da Montanha era o mais recente, inaugurado em 1941.
–
O Estádio Timbaúva era de 1935.
–
O Estádio dos Eucaliptos, de 1931.
A
CBD - Confederação Brasileira de
Desportos, decidiu-se pelo Estádio
dos Eucaliptos do Colorado, que
teve de passar por reformas para sediar jogos da Copa.
Nota:
Desde 1944, o estádio do Internacional, chamava-se,
oficialmente, Ildo Meneghetti, tinha
capacidade para 10.000 pessoas, com um pavilhão de madeira no lado da rua
Silveiro, e um pavilhão de concreto no lado oposto.
O
Estádio dos Eucalíptos com as
reformas, o pavilhão de madeira foi substituído por outro, de concreto, e a
capacidade do estádio duplicada.
Estádio dos Eucaliptos, durante a Copa, 1950
Inicia a Copa do Mundo de Futebol – 1950
Os Eucaliptos sediaram duas partidas do Grupo A.
O Grupo A - Porto Alegre
México
Suiça
Iuguslávia
Em 29 de junho de 1950, ocorreu a primeira
partida, entre Iugoslávia e México.
Era
um jogo importante, pois um dia antes o Brasil, que já havia batido o México,
empatara com a Suíça. Se a Iugoslávia, que havia derrotado os suíços, vencesse
o México, assumiria a liderança do grupo e jogaria pelo empate, contra o
Brasil, para decidir quem iria para o Quadrangular Final.
Apesar
de contar com Carbajal, goleiro que
tornaria-se recordista em Mundiais disputados (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966),
além de ser escolhido o melhor de sua posição da CONCACAF no século XX, o México não tinha condições de resistir ao
bom futebol dos iugoslavos.
Na
primeira etapa a Iugoslávia já vencia por 2x0, e acabaria fazendo 4x1,
preocupando a torcida brasileira.
Jogo:
29/06/1950 - Iugoslávia 4x1 México
Juiz:
Reginald J. Leafe (Inglaterra)
Público:
12.000
Gols:
Bobek 20' e Čajkovski 23' do 1º; Čajkovski
6', Tomašsević 35' e Ortiz (pênalti)
44' do 2º
IUG:
Mrkušić; Horvat, Stanković e Zl.
Čajkovski; Jovanović e Djajić;
Mihajlović, Mitić, Tomašević, Bobek e Čajkovski
MEX:
Carbajal; Gutierrez, Gomez e Ruiz; Ochoa e Flores; Naranjo, Ortiz, Casarin, Peréz e Velasquez
A
partida seguinte não atraiu muito a atenção da torcida porto-alegrense,
eufórica com a classificação do Brasil.
No dia 1º de julho de 1950, o Brasil bateu a
Iugoslávia e classificou-se para a fase final.
Em 02 de julho de 1950, no dia seguinte em Porto
Alegre, bateriam-se México e Suíça, já eliminados.
Na
hora da partida, um contratempo:
– " A Suíça jogava com um uniforme vermelho, e o México de
grená. O árbitro sueco Ivan Eklind
considerou que os uniformes eram muito parecidos, e exigiu que uma das equipes
trocasse as camisas. Como nenhuma das seleções tinha uniforme reserva, foi
feito um sorteio para decidir quem teria de arrumar um jogo de camisas
emprestado. O México venceu o sorteio, mas como havia sido muito bem recebido
na cidade, decidiu ele trocar de camisas e usar o uniforme de um dos clubes da
capital gaúcha. O Internacional não
poderia ser, pela cor (vermelho). A opção foi utilizar o uniforme do Cruzeiro (azul). Mas até buscar-se um
jogo de camisas no Estádio da Montanha,
a partida atrasou em 25 minutos."
Os
mexicanos não conseguiram segurar os suíços, que garantiram sua única vitória
na competição. Novamente, ainda na primeira etapa o México já havia levado dois
gols.
Jogo:
02/07/1950 - Suíça 2x1 México
Juiz:
Ivan Eklind (Súécia)
Gols:
Bader 10' e Antenen 44' do 1º; Casarin
44' do 2º
SUI:
Hug; Neury, Bocquet e Lusenti; Eggimann e Quinche; Antenen, Friedländer, Tamini,
Bader e Fatton
MEX:
Carbajal; Gutiérrez, Gomez e Ochoa; Ortiz e Roca; Flores, Naranjo, Casarin, Borbolla e Velázquez
O Adeus dos Mexicanos
Os
mexicanos gostaram muito de Porto Alegre, principalmente da noite da cidade.
Assíduos
frequentadores dos cabarés porto-alegrenses, em campo mal conseguiam correr.
Quando
voltou ao México, a seleção foi dissolvida, por "comportamento inconveniente".
Poucos
daqueles atletas voltariam a vestir a camisa mexicana.
A Copa do Mundo continua no centro do país
A
Copa continuou, com Brasil, Espanha, Uruguai e Suécia ainda sonhando com o
título.
O
Brasil dava show, goleando Espanha e Suécia.
Quase
ganhou o título por antecipação, pois na 2ª rodada o Uruguai, que já havia
empatado com a Espanha, empatava com a Suécia até os 40' do 2º tempo, quando
conseguiu a vitória que o manteve vivo.
No Rio de JANEIRO
–
Maracanã, é a final da Copa do Mundo de
Futebol, o Brasil precisava de um empate.
A Final
1 Barbosa • 2 Castilho • 3 Augusto • 4 Ely • 5 Juvenal • 6 Nena • 7 Nílton Santos • 8 Bauer • 9 Bigode • 10 Danilo • 11 Noronha • 12 Rui • 13 Adãozinho • 14 Ademir • 15 Alfredo II • 16 Baltasar • 17 Chico • 18 Friaça • 19 Jair • 20 Maneca • 21 Rodrigues • 22 Zizinho • Treinador: Costa
A Seleção Uruguaia posando antes da partida decisiva contra o Brasil em 1950.
Da esquerda para a direita, em pé: Varela, o técnico López, Tejera, dois membros da comissão técnica, Gambetta, Matías González, Máspoli, Rodríguez Andrade e outro membro da comissão técnica; agachados, um membro da comissão, Ghiggia, Julio Pérez, Míguez, Schiaffino, Morán e outro membro da comissão.
Inicia a Partida Final
O
Brasil saiu ganhando.
Na
última partida, contra o Uruguai, o Brasil podia empatar, saiu na frente, mas
levou o gol da virada faltando 11 minutos para o final do jogo.
Foi
o terrível "Maracanazo".
Desolados,
os quase 200 mil torcedores demoraram mais de meia hora para deixar o estádio.
O
time brasileiro fez trinta lances a gol (dezessete no primeiro tempo e treze no
segundo).
Os
jogadores cometeram quase o dobro de faltas, um total de 21, contra apenas onze
do Uruguai.
Nota:
–
Jules Rimet, presidente da FIFA, não
conseguiu entregar a taça ao Uruguai e decidiu se retirar.
Mas
logo depois voltou e Obdulio Varela
recebeu a taça. Rimet disse:
"Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar.
Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas
felicitações".
Nesta
Copa, a Seleção Brasileira contou com dois colorados (Internacional), Adãozinho e Nena, que não atuaram em nenhuma partida.
FIFA
Em 1904, é fundada a entidade para organizar e liderar o
futebol mundial.
Em 1921, Jules Rimet
assumiu a presidência da FIFA.
Ele foi o terceiro presidente da entidade.
COPAS
Até então, o único campeonato entre seleções em nível
mundial no futebol era disputado a cada quatro anos por jogadores amadores
durante os Jogos Olímpicos e estes campeões olímpicos eram tidos como campeões
mundiais de futebol na época:
REINO UNIDO 1908 e 1912
BÉLGICA 1920
URUGUAI 1924 e 1928
Mas o futebol não era uma das prioridades do Comitê Olímpico
Internacional (COI) e Jules Rimet alimentou a ideia de criar um Mundial
organizado pela FIFA.
Em 1928, a ideia foi levada e aprovada pelo Comitê da entidade
na cidade holandesa de Amsterdam.
Foi escolhido o Uruguai para sediar o evento dois anos
depois.
O TROFÉU
Foi encomendado pela FIFA um troféu para premiar a seleção
campeã do mundo.
Jules Rimet ainda definiu que o país que conquistasse a Copa
pela terceira vez, ganharia em definitivo a Taça do Mundo e seria criada uma
outra.
A criação ficou sob a responsabilidade de um artesão francês
chamado Abel Lafleur.
Em abril de 1929, a jóia ficou pronta e custou 50 mil
francos. Consistia na representação da Nike, a deusa da vitória na mitologia
grega. Com 3,8kg e 35cm, a imagem da deusa da vitória com os braços erguidos
segurando um copo octogonal sob uma semi-circunferência com o nome FIFA gravado
nela.
Tudo isso feito com ouro puro.
Abaixo havia uma base de lápis-lazuli, uma rara pedra
preciosa que continha pequenas placas onde seriam gravados os nomes dos futuros
campeões do mundo.
A VIAGEM DA TACA
Da sede da FIFA na França, o precioso troféu foi para a
cidade italiana de Gênova de onde embarcou com Jules Rimet em um cofre para o Uruguai no navio italiano SS Conte
Verde.
URUGUAI 1930
Em 1930, no caminho ao Uruguai embarcaram no mesmo navio as
seleções da França, Romênia, Bélgica e Brasil, além de três árbitros que
apitariam aquele Mundial, entre eles o da final: Jean Langenus.
Nota:
- O destino do navio
que trouxe a Taça do Mundo não foi boa, pois foi abatido e afundou na Guerra
durante a década de 1940.
Jules Rimet entrega a Taça do Mundo para a
Federação Uruguaia em 1930 após a conquista do Uruguai na grande final da
primeira Copa do Mundo
Uruguaios comemorando
a conquista com a Taça do Mundo
Após quatro anos cuidando do troféu, o Uruguai o entregou
para a Itália para que fosse entregue ao próximo campeão do Mundo em 1934.
ITÁLIA 1934
A Itália, país sede, foi o campeão daquele ano.
Lado esquerdo, o
goleiro e capitão italiano Combi recebe
o troféu
Três primeiros colocados da Copa de 1934 recebem suas
premiações.
No centro, o capitão da Itália segura a Taça do Mundo
FRANCA 1938
Em 1938, o troféu volta para a França onde foi disputado
pela terceira vez e a Itália o conquista novamente.
Jules Rimet entrega o troféu para o capitão Meazza.
Jogadores italianos
comemoram a conquista de 38 com o técnico italiano segurando orgulhosamente a
cobiçada taça.
1942
Em 1942, a Copa estava cotada para ocorrer no Brasil ou
Alemanha, mas a Segunda Guerra Mundial interrompeu este processo e a Copa foi
cancelada.
O italiano Ottorino
Barassi que era o então vice-presidente da FIFA escondeu a Taça do Mundo
dentro de uma caixa de sapatos embaixo de sua cama, em Roma.
A Itália tinha sido invadida pelos alemães liderados por Adolf Hitler que diziam querer possuir
a Taça do Mundo devido ao seu valor e para mostrar seu poder.
Após um tempo, Ottorino
Barassi entregou o troféu para seu amigo Giovanni Mauro que a escondeu em sua casa de campo na cidade
italiana de Brembate.
Após o fim da guerra, o troféu foi devolvido para a FIFA.
1946
Em 1946, também não foi organizada a Copa do Mundo ainda em
virtude da Guerra.
O NOME DA TACA
Ainda em 1946, a Taça do Mundo mudou seu nome para Troféu Jules Rimet em homenagem ao seu
idealizador.
BRASIL 1950
Com o fim da guerra e a Europa devastada, o Brasil recebeu a
missão de organizar o próximo mundial em 1950.
A taça do Mundo sendo
apresentada já em solo brasileiro.
Jules Rimet entrega o
troféu para o capitão uruguaio após vitória do Uruguai sobre o Brasil no
Estádio do Maracanã.
Uruguaios comemorando
o título de 1950.
SUÍCA 1954
Em 1954, a Suíça sediou o torneio e a Alemanha conquistou o
título.
Jules Rimet
entrega a Taça do Mundo pela última vez, pois ele viria a falecer dois anos
depois.
O capitão alemão
celebra a conquista após a final.
Nota:
- É interessante
observar a base do troféu de 1930 a 1954. Essa base foi substituída após a Copa
de 1954 para uma maior para que coubesse mais placas com o campeão. Tal base
ficou perdida até 2015 quando foi encontrada no porão da FIFA e levada para
o museu da entidade.
SUÉCIA 1958
Em 1958, na Suécia, o Brasil conquistou pela primeira vez o
Mundial e seu capitão Bellini,
imortalizou um gesto ao “erguer pela
primeira vez o Troféu do Mundo logo após recebê-la”.
- Dizia ele, que fez isso porque os fotógrafos que estavam
mais atrás não conseguia ver o troféu e ao erguer todos puderam vê-lo.
É possível ver que o troféu teve sua base alterada, sendo
aumentada um pouco. Especula-se que o troféu original possa ter sido perdido ou
roubado pelos alemães um ano antes e por isso a mudança de base teria ocorrido.
Tal fato jamais foi provado.
Seleção brasileira
posa com o troféu
CHILE 1962
Em 1962, a Copa veio para o Chile, o Brasil a conquistou
novamente.
Mauro recebe o troféu
INGLATERRA 1966
Antes da Copa de 1966, a taça do Mundo estava sendo exposta
em Londres quando foi roubada em março.
Dias depois, um homem passeava com seu cachorro Pickles pelas ruas da capital inglesa,
quando o cachorro farejou um embrulho de jornais perto de um arbusto. Seu dono
teve uma enorme surpresa ao abrir o embrulho e encontrar a taça roubada. Logo,
ele entregou para as autoridades policiais que se incumbiram de entregar para
FIFA.
Imagens do troféu
ainda preso aos jornais logo após ser encontrada
A polícia inglesa
apresenta o troféu salvo
Meses depois, a Rainha da Inglaterra Elisabeth entregou o troféu para os campeões de 1966. Os ingleses
conquistaram o campeonato dentro de sua casa.
MÉXICO 1970
Em 1970, no México, a Taça
Jules Rimet seria entregue pela última vez, pois a final entre Itália e
Brasil decidiria quem a conquistaria pela terceira vez e em consequência teria
sua posse definitiva.
O Brasil venceu e conquistou o Tri-Campeonato.
Carlos Alberto Torres ergue o troféu
Carlos Alberto Torres
imortalizou outro gesto ao receber a taça, olhou para ela e a deu um beijo.
Após ser exposta em diversas cidades do Brasil após a
conquista, a Taça Jules Rimet foi
colocada em local de destaque em uma das salas da sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Uma réplica foi mantida em um cofre.
ALEMANHA OCIDENTAL 1974
ARGENTINA 1978
ESPANHA 1982
O ROUBO DA TACA NO BRASIL
Em 1983, bandidos invadiram a sede da CBF no centro do Rio
de Janeiro e roubou a Troféu Jules Rimet.
Imagens de onde
ficava o troféu
As investigações foram intensas, os culpados localizados, as
falhas grotescas de segurança foram localizadas. Mas o precioso troféu jamais
foi encontrado. Especula-se que tenha sido derretido e seu ouro vendido.
Há boatos que tenha sido vendido para um colecionador ou
ainda que esteja escondido em algum lugar até hoje.
A verdade é que o fato foi uma vergonha para o país do
futebol e é uma mancha na história da Copa do Mundo.
AS DEMAIS TACAS ROUBADAS
Com a Jules Rimet
foram roubadas da CBF outras três taças:
- Equitativa, conquistada pelo Brasil como vice-campeã do
mundo em 1950;
- Jarrito de Ouro, pela conquista do II Campeonato
Pan-Americano do México, em 1956,
- Taça Independência, conquistada em 1972, por ocasião do
Torneio do Sesquicentenário da Independência.
A DEVOLUCAO
Em 19 de janeiro de 1984, a proposta de devolução das quatro
taças roubadas, foi feita pela Kodak
Brasileira, e aceita pela CBF.
Com a ajuda da J. W.
Thompson, a empresa localizou os moldes originais da Taça Jules Rimet, feitos na Alemanha, em 1954, por Rudolf Schaeffer, na cidade de Hanau,
perto de Frankfurt.
Dois meses de pesquisa e trabalhos intensos foram
necessários para a reprodução exata da Taça
Jules Rimet, com todas as suas características originais.
As outras três taças foram confeccionadas pelo artesão de
jóias Frederic, no Brasil.
Com as novas taças já elaboradas, a Kodak elaborou um
roteiro para que autoridades, representantes do futebol e a população pudessem
rever esses ícones nacionais. O roteiro teve início com a apresentação das
taças para o então presidente da República, João Figueiredo, que as recebeu das mãos dos três capitães da
seleção brasileira ganhadores de mundiais a nova Taça Jules Rimet, na presença dos representantes da Kodak Brasileira, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
e do Bradesco, responsável pelo
seguro da nova taça.
Após a solenidade, houve um coquetel na Casa do Bradesco,
onde a taça foi apresentada às demais autoridades, assim como à imprensa, aos
jogadores das três seleções brasileiras campeãs do mundo.
A taça percorreu os roteiros: - Belo Horizonte, São Paulo,
São José dos Campos, Curitiba, São Paulo (Pacaembu), Porto Alegre, Salvador,
Recife, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 10 de junho de 1984, antes da partida amistosa Brasil x
Inglaterra e durante as comemorações do 70º
aniversário da CBF, a Taça Jules
Rimet foi entregue oficialmente à Confederação Brasileira de Futebol.
Milhares de pessoas se emocionaram quando os três capitães
ergueram de novo a Jules Rimet e a entregaram ao presidente da entidade, Giulite Coutinho.
Os capitães recebem a
réplica e as exibem pelo país:
MÉXICO 1986
ITÁLIA 1990
ESTADOS UNIDOS 1994
FRANCA 1998
Em junho de 1997, um réplica foi oferecida em leilão por uma
família inglesa. Estranhamente, FIFA e CBF tentaram comprar achando que pudesse
ser a roubado em 1983.
A FIFA venceu o leilão pagando mais de 230 mil libras. Mais
tarde, exames na peça comprovaram ser apenas uma bela réplica feita na década
de 60 após o primeiro roubo e a conquista da Copa de 1966 pela Inglaterra.
Era o joalheiro George
Bird quem fez a réplica em 1966 e após sua morte, sua família decidiu
leiloá-la.
JAPAO/ CORÉIA DO SUL 2002
ALEMANHA 2006
ÁFICA DO SUL 2010
BRASIL 2014
No início de 2015, a FIFA encontrou nos seus porões, a base
original do troféu que foi utilizada até a Copa de 1954 quando foi substituída
por uma base maior, de oito lados, para caber mais placas com as gravações dos
campeões.
Uma réplica idêntica
do troféu ganhou a base original que foi restaurada após seu aparecimento.
MUSEU DA FIFA 2016
A peça está exposta no Museu da FIFA aberto em 2016, na
Suíça.
RÚSSIA 2018
O LEGADO DE 1950
Nota:
- Leia a entrevista com Beatriz Ferrugia e Diego Salgado:
Brasil e
Uruguai. Final da Copa de 50. O gol de Gighia aos 34 minutos do segundo tempo
sacramentou a vitória uruguaia sobre a seleção brasileira na primeira Copa do
Mundo realizada no Brasil.
Duzentas mil
pessoas saíram cabisbaixas e em silêncio do Maracanã, no episódio que, segundo
Nelson Rodrigues, inaugurou o “complexo de vira-latas” brasileiro.
Foi também
nessa Copa, que a camisa da seleção deixou de ser branca para se tornar
amarela.
Essas são as
lembranças mais comuns sobre aquele torneio.
Mas aconteceu
muito mais naquela Copa, como descobriram os quatro jornalistas que escreveram -
“1950: O Preço de Uma Copa”: Beatriz Ferrugia, Diego Salgado,
Gustavo Zucchi e Murilo Ximenes.
O
livro, que surgiu do Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Metodista,
foi feito de forma independente, e ainda não foi publicado, mas já despertou o
interesse de duas editoras.
“Quando você assume a responsabilidade de fazer
um evento que já foi realizado, você tem que voltar os olhos para aquela
experiência para fazer melhor no próximo. Mas as pessoas esqueceram da Copa de
50”
Afirma Beatriz ao explicar a motivação
da equipe para realizar um levantamento histórico da preparação brasileira para
receber a competição.
“O grande legado da Copa de 1950, se
você for pensar bem, é só o Maracanã mesmo, que eu acredito que seria
construído de qualquer jeito porque o Rio precisava de um estádio grande; fora
disso não houve legado nenhum” diz Diego Salgado, que hoje cobre a preparação brasileira para 2014.
Com apenas
seis cidades sede o evento exigiu uma preparação muito menor e a construção de
apenas dois estádios (o Maracanã e o Independência, em Belo Horizonte), além da
reforma de outros quatro. Não havia discussão de obras de mobilidade urbana,
capacidade hoteleira ou sobre a condição dos aeroportos. Aliás, o Brasil nem
era ainda o país do futebol.
Quais foram as etapas,
o passo a passo para escrever esse livro?
Beatriz Farrugia – Foram seis meses de pesquisa aqui em São
Paulo, porque eu e os outros três jornalistas somos daqui. Nesse período,
pesquisamos dados sobre cada cidade que foi sede da Copa, mas houve uma
rejeição ao trabalho por parte da própria universidade e dos orientadores,
porque eles achavam que o projeto era muito ambicioso para o tempo que a gente
tinha. Depois, viajamos para todas as cidades-sede e ficamos em média três dias
em cada uma delas, quando entrevistávamos as fontes, os personagens e as
pessoas que tiveram alguma relação com a Copa de 1950, além de pesquisar os
arquivos históricos, sedes de jornais, bancos de dados. Tínhamos material para
escrever um livro três vezes maior do que esse!
O Brasil ainda tinha
uma vocação incipiente para o futebol. Qual foi o motivo da escolha do Brasil
para ser sede da Copa de 50?
BF – Houve uma série de acontecimentos que levaram a essa
escolha. Aconteceu a Segunda Guerra Mundial e nesse período não foi realizada a
Copa. Então o Brasil foi escolhido depois da Segunda Guerra, quando os países
da Europa estavam devastados e não tinham como abrigar um evento desse porte.
Muitos países europeus sequer participaram da Copa por estarem destruídos, sem
verbas ou sem condições de vir ao Brasil. Outros foram punidos por terem se
aliado a Hitler e também não participaram. Então a ideia da Fifa para a Copa na
época era que ela fosse feita na América do Sul. A comissão da Fifa visitou alguns
países e acabou optando pelo Brasil.
Quais eram as
exigências da Fifa para que um país sediasse uma Copa naquela época?
BF – Eram bem menores. Não dá para comparar com as
exigências que temos hoje. Havia uma vistoria nos estádios. Então eles pediam
um determinado tamanho para o campo de futebol, exigiam uma área para
jornalistas, um vestiário adequado, nada mais do que isso.
Entrando mais na
questão central do livro agora. Diego, você está cobrindo os preparativos para
a Copa de 2014. Qual é o paralelo que você traça tendo feito a pesquisa a
respeito dos preparativos para a Copa de 1950 com os preparativos da Copa hoje
em dia?
Diego Salgado – A começar pelos gastos, os da Copa de 1950
são bem inferiores aos da Copa de 2014. Em 50, apesar do Brasil ter sido
escolhido quatro anos antes, no dia 25 de junho de 1946, a preparação foi muito
tardia, não foi planejada detalhadamente pelo governo. Em 2014, apesar dos
erros, você vê planejamento. Por exemplo, a Matriz de Responsabilidade, apesar
de não ser totalmente seguida, é planejamento. E em 1950, por ser apenas a
quarta edição da Copa do Mundo, não teve essa preocupação por parte da Fifa.
Isso começou a ocorrer na década de 1970, na Copa da Alemanha (1974) e da
Argentina (1978). Analisando os jornais e as informações que conseguimos nas
cidades-sede, essa preparação por parte do governo brasileiro foi feita
praticamente em 1950, a partir do mês de janeiro, com exceção das obras do
Maracanã que começaram em 1948.
E como deu tempo?
DS – Dos seis estádios que foram usados na Copa de 1950,
apenas dois foram construídos: o Maracanã e o estádio Independência, em Belo
Horizonte. Quatro eram estádios que já existiam desde a década de 1930, com
exceção de Curitiba cujo estádio ficou pronto em 1947, um pouquinho depois da escolha,
e como era quase novo, foi usado para a Copa do Mundo.
Como foi o
financiamento da Copa de 1950? Foi basicamente com dinheiro público?
DS – Não dá para você dividir entre investimento público e
privado. Na Copa de 1950, foram gastos, passando de cruzeiro para real e de
réis para real, 400 milhões de reais. Esse valor é irrisório se você comparar
com os gastos da Copa de hoje. Dá 67 vezes menos. A Copa do Mundo hoje no
Brasil está estimada em 27 bilhões de reais, segundo a Matriz de Responsabilidade,
com obras de mobilidade, nos aeroportos e estádios, que já estão sendo
realizadas. Ainda vão entrar as matrizes de segurança e de telecomunicações. Se
você pegar hoje esses 27 bi e analisar a questão dos aeroportos, são 31 obras
em 13 aeroportos de Copa do Mundo nas doze cidades-sede, mais Viracopos [que
fica em Campinas mas também será usado na Copa]. Com a privatização que ocorreu
no início do ano, metade dos 7 bilhões que serão gastos em aeroportos virá da
iniciativa privada e outra metade da Infraero. Na Copa de 1950 não dá para
fazer essa divisão entre dinheiro público e privado. O Maracanã foi construído
com dinheiro público, porque é um estádio municipal. As adequações que foram
feitas no Pacaembu a partir de 1949 também foram feitas com dinheiro público.
Mas, por exemplo, em Curitiba não dá para mensurar quanto custou o estádio
porque foram doações. Ele foi construído ao lado de uma linha de trem e todo o
material que foi necessário para a construção do estádio foi doado. É certo que
o Maracanã foi o estádio mais caro da Copa, custou 215 milhões de reais, se
você fizer a conversão, 150 milhões de cruzeiros na época. E esse dinheiro foi
totalmente público.
Houve algum tipo de
jogo político na escolha das sedes naquela época?
BF – A Copa de 1950 foi organizada de maneira mais amadora.
Algumas cidades já estavam definidas como sede um ano antes. Outras foram
decididas dois meses antes. E outras ainda foram decididas por questões
puramente políticas. Se havia um candidato que queria ganhar notoriedade com os
eleitores, fazia um jogo político para conseguir ter jogos da Copa na capital
daquele estado.
Vocês poderiam dar um
exemplo desse jogo político?
DS – Para a construção do Maracanã, aconteceu uma briga
entre dois políticos famosos no Rio de Janeiro na época, Carlos Lacerda e
Mendes de Morais. Este era o prefeito à época da construção do Maracanã, na
segunda metade da década de 40 [foi prefeito do Rio entre os anos de 1947 e
1951] e o Carlos Lacerda era opositor e queria ser o pai da construção do Maracanã.
Lacerda fez de tudo para que o estádio fosse construído sob a sua batuta, ele
queria que o ele fosse feito em Jacarepaguá, longe do centro. Aí o Mendes de
Morais tomou a frente da situação e, como prefeito do Rio de Janeiro, definiu o
local da construção e foi o verdadeiro pai do Maracanã. Tanto que o nome
oficial do Maracanã era estádio Mendes de Morais, só depois mudou para o nome
atual, Jornalista Mário Filho [irmão de Nelson Rodrigues], na década de 1960.
Então a construção do Maracanã mostra bem essa guerra política para ver quem
ficaria com os louros da construção do estádio: o Mendes de Morais ou o Carlos
Lacerda, que depois veio até a se tornar governador do estado da Guanabara. O
Maracanã é um exemplo específico de que a Copa de 1950 teve essa conotação
política bem clara.
E vocês viram na Copa
do Mundo um esforço em se fazer uma representação política daquele momento
histórico no exterior? Há algum paralelo com o momento atual da realização da
Copa?
DS – Hoje em dia isso é inegável. O Brasil se preocupa com
isso apesar de alguns erros na preparação, como eu disse. Há essa preocupação
com a imagem passada ao exterior. Até porque hoje a Copa do Mundo é uma vitrine
e o maior evento midiático do planeta. Mas em 1950 não havia tanto essa
preocupação. Era muito mais usar a Copa com fins partidários e políticos, como
aconteceu no caso do Maracanã, do que ser uma vitrine para o mundo. Naquela
época era mais uma motivação de política interna, dentro desse jogo de
interesses entre os políticos locais, e hoje é mais uma preocupação de política
externa, de representação do Brasil para o mundo.
Entre os estádios
reformados, há uma história curiosa que é a do estádio do Sport, no Recife.
Vocês poderiam contar esse caso?
DS – No Recife, o estádio era da década de 1930. E para
fazer parte da Copa do Mundo, em março e abril de 50, os próprios sócios do
Sport Recife resolveram colocar a mão na massa e reformar o estádio. Mas o
local recebeu apenas um jogo da Copa, que foi entre Chile e Estados Unidos,
vencido por 5 a 2 pelo Chile. A Fifa incluiu Recife e Porto Alegre 50 a 60 dias
antes da Copa do Mundo.
Algum outro caso que
vocês se lembrem?
BF – Tem também o caso do estádio Indepedência em Belo
Horizonte. Tinha um juiz na cidade, um juiz de futebol que também acumulava
funções como funcionário público chamado Raimundo Sampaio, que faleceu em 1984,
mas dedicou a vida inteira ao estádio. Chegava a tirar dinheiro de casa para
pagar as obras. Ele era dirigente de um clube chamado Sete de Setembro, que
construiu o estádio, daí o nome do estádio ser Independência. O Independência
foi comprado pelo América e a família desse juiz mantém hoje uma briga com o
clube porque quer entrar no estádio, participar da renda dos jogos, e o América
não deixa. Enfim, uma história bem complicada e diferente envolvendo esse
estádio.
Outra história bacana é a do Ferroviários, estádio de
Curitiba que foi construído aos poucos porque era um campinho onde funcionários
de uma empresa ferroviária jogavam uma pelada no fim do expediente. E eles
sempre paravam os trens que passavam levando mercadoria para aquela região para
pedir sobras de madeira, ferro etc. para construir o próprio estádio. Foi
construído assim! E depois foi reformado e usado na Copa de 50. Até hoje tem um
relógio enorme no estádio, que foi doação de uma das empresas naquela época.
Houve problemas de
prazo na entrega das obras? Algo foi entregue inacabado?
BF – Há um boato, por exemplo, e nós conseguimos levantar
até alguns documentos sobre isso, que o Maracanã foi entregue sem que as obras
estivessem totalmente concluídas. Só que a CBD (Confederação Brasileira de
Desportos) negou na época e o próprio governo do Rio também. Nós conseguimos
uma foto de um jogo que teria sido um dos primeiros, e nela há alguns
alambrados, mostrando que a construção ainda não estava totalmente concluída.
Então há indícios de que muita coisa foi entregue sem ter sido finalizada em
50, o que pode se repetir agora em 2014.
DS – Vou te explicar bem o que aconteceu. A gente tinha uma
foto que não sabíamos se era do dia 16 de junho de 1950 ou do dia 24 de junho
de 1950. 16 de junho foi a data de abertura do Maracanã, com o jogo da Seleção
Paulista contra a Seleção Carioca. E no dia 24 de junho foi a abertura da Copa,
com o jogo Brasil e México. Se essa foto fosse do dia 24 de junho, seria uma
prova de que a Copa começou com o Maracanã em obras. Se essa foto fosse do dia
16, a gente não teria essa prova de que a Copa começou com o Maracanã em obras.
Tentamos analisar, puxamos a foto em alta resolução, aproximamos e vimos que
tinha uma delegação dando a volta no estádio nessa foto. Só que aí, com as
fontes, vimos que essa foto é do dia 16 e não do dia 24. Mas a foto mostra
andaimes, na arquibancada, e eles usaram os andaimes pra quê? Para segurar a
cobertura do Maracanã, porque ela não estava seca ainda. Com os andaimes eles
tinham que esperar secar todo aquele concreto para depois tirar os andaimes e o
estádio ficar com a cobertura intata. Mas a foto é do dia 16. Isso não quer
dizer que o estádio estivesse totalmente pronto no dia 24. Por exemplo, no dia
24, na abertura da Copa tinha lama, barro, material de construção em volta do
estádio. Mas a foto com os andaimes é do dia 16, tirada oito dias antes da Copa
do Mundo.
Vocês acham que é
possível isso se repetir e termos alguma obra inacabada em 2014? Não falo
apenas de estádios, mas obras de mobilidade urbana, aeroportos, etc.
DS – A menor preocupação, pelo menos da gente que acompanha
o dia a dia, são os estádios. Todos vão ficar prontos, não sei se na data
determinada. Por exemplo, em fevereiro de 2013 o Maracanã tem que estar pronto.
Eu não acredito que o Maracanã vai estar pronto nessa data. Ele vai estar
pronto em mais ou menos em maio, às vésperas da Copa das Confederações [a
competição começa no dia 15 de junho de 2013]. Um estádio da Copa do Mundo, a
Arena das Dunas, em Natal, que é o estádio mais atrasado hoje, com 33% de obras
concluídas, ele vai estar pronto também, mas não em dezembro de 2013, como
estava estipulado. A Copa começa em junho e o estádio vai estar pronto em abril
mais ou menos, na minha opinião. Acho que a gente não precisa se preocupar com
a execução dos estádios. O grande problema da Copa do Mundo vai ser com os
aeroportos e com as obras de mobilidade urbana. Com relação aos aeroportos,
mesmo se não tivesse Copa, estaríamos enfrentando problemas de capacidade e
demanda. Tem aeroporto que corre o risco de ter obras em andamento na abertura
da Copa [em Natal, por exemplo, está prevista a construção de um aeroporto nos
arredores da cidade, mas a obra nem começou ainda]. Então os grandes problemas
da Copa são aeroportos e mobilidade urbana. Um exemplo: o VLT de Brasília, que
estava previsto na Matriz de Responsabilidades, não vai estar pronto para a
Copa do Mundo. O próprio governo já disse isso e a obra foi incluída no PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento), mas sem o prazo anterior. Em São Paulo
também tem o caso do monotrilho que vai ligar estádio do Morumbi ao aeroporto
de Congonhas, estava previsto na Matriz porque o Morumbi era o estádio paulista
da Copa, o Morumbi saiu e esse projeto continua na Matriz, mesmo sem ter nada a
ver com a Copa do Mundo até agora. As obras viárias de Itaquera são muito mais
importantes, por exemplo.
Hoje sabemos que a Copa tem certo
custo social. Como, por exemplo, as famílias que são removidas para dar lugar a
obras da competição. Isso aconteceu na Copa de 1950?
DS – No Maracanã algumas casas tiveram que ser demolidas
numa rua próxima, uma rua pequena que era sem saída e tiveram que abrir essa
rua para ter saída para o outro lado. E aí removeram algumas famílias dali. E
logo depois, apareceu uma favela ali ao lado, é até um caso curioso porque os
restos do Maracanã foram usados nas construções. Chamava Favela do Esqueleto.
Hoje ela não existe mais porque foi removida no governo do Carlos Lacerda em
1960. E esse pessoal foi levado para a Cidade de Deus, um lugar bem afastado,
que era a política do Lacerda na época.
Pesquisando os
preparativos para a Copa de 1950, vocês acham que ficou algum aprendizado? Há
um esforço para aprender com o passado?
DS – [A Copa de 50] É uma história meio esquecida. Até para
a gente que mergulhou de cabeça, teve muito trabalho para conseguir esses
números. Acho que o governo brasileiro sabe que a Copa foi aqui, lógico, mas
ela é muito mais lembrada por conta da derrota do Brasil para o Uruguai. Acho
que o grande legado da Copa de 50 foi o Maracanã mesmo. Maracanã que em 2014
vai também ser palco da final. Portanto a Copa de 50 não teve legado nenhum,
porque acho que o Maracanã iria ser erguido de qualquer forma. O Rio de Janeiro
pedia um estádio grande. E não vejo nenhuma preocupação do governo em enxergar
o passado ou os erros de 50 para não repeti-los. Mas são épocas diferentes. Não
sei se o governo tivesse essa preocupação, conseguiria evitar algum tipo de
erro em 2014. Mudou muita coisa.
BF – Quando você assume a responsabilidade de fazer um
evento que já foi realizado, tem que voltar os olhos para o que aconteceu no
passado e fazer melhor no próximo. Mas as pessoas esqueceram a Copa de 1950.
Parece que a Copa de 2014 vai ser a primeira a ser realizada no Brasil.
Para fechar: qual foi
a importância da Copa do Mundo para o desenvolvimento do futebol brasileiro?
DS – O futebol já movia massas, vou te dar um exemplo: Na
estreia do Leônidas da Silva [conhecido como “Diamante Negro”, o craque da
primeira metade do século XX com passagens vitoriosas por São Paulo e Botafogo,
a quem é atribuída a invenção do gol de bicicleta] em 1942, 74 mil pessoas
foram ao estádio. Mas a Copa do Mundo não suscitou a ânsia do torcedor de ir ao
estádio. A não ser no Maracanã. Somente nos jogos do Brasil os estádios
lotavam. O futebol ainda começava a se tornar o esporte número um do Brasil. Se
você pegasse o jornal da época, tinha um espaço maior para o turfe do que para
o futebol. Então acho que a Copa de 50 deu o pontapé inicial mesmo. E com a
derrota na Copa do Mundo, o Brasil começou a ter um gosto maior pelo futebol.
Como eu disse, já havia indícios disso na estreia do Leônidas, mas era uma
coisa muito incipiente. Especialmente na década de 50 o futebol começou a cair
no gosto do público. Dentro de campo muita gente até diz que a derrota de 1950
foi importante para o Brasil mudar a postura. O Brasil entrou com uma soberba
absurda contra o Uruguai, achando que já tinha vencido a Copa do Mundo. Tinha
vencido por 7 a 1 a Suécia, por 6 a 1 a Espanha, precisava de um empate contra
o Uruguai e entrou no Maracanã com 200 mil pessoas, achando que iria ganhar a
qualquer momento. A Seleção Brasileira ficou mais humilde a partir daí. Foi um
pontapé inicial para o Brasil virar uma potência, o que só começou com o
primeiro título, em 1958.
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