domingo, 18 de abril de 2010

Porto Alegre 1950


Copa do Mundo1950


Brasil
Rio Grande do Sul
Porto Alegre

A Capital Gaúcha é uma das sedes

Jules Rimet entrega a taça aos fortes uruguaios, 1930

No Congresso da Fifa em Paris, o representante da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), jornalista Célio de Barros, lançou a candidatura do Brasil a país-sede do Campeonato Mundial de Futebol de 1942.

O presidente da FIFA, Jules Rimet recebeu a proposta e agradeceu o entusiasmo, porém deixou claro que a Alemanha era a preferida. Os tedescos apresentaram sua postulação um par de anos antes e já tinham sediado com sucesso os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936 – assim, levavam ampla vantagem na corrida.

Os figurões do futebol só não contavam com os delírios germânicos de Adolf Hitler, que em 1939 entrou na Polônia e transformou o mundo em uma praça de guerra nas temporadas seguintes, impossibilitando assim a organização do quarto torneio mundial do jogo criado pelos ingleses.

A II Guerra Mundial impedira a realização dos Mundiais de 1942 e 1946, e a entidade máxima do Futebol pretendia realizar a próxima competição em 1949.



Objeto do Desejo

Taça Jules Rimet

Finda a batalha, depois de seis longos anos, era hora de ressuscitar a competição, que simplesmente caiu no colo do Brasil – a Alemanha, por motivos óbvios, era carta fora do baralho.

O Brasil, que já era candidato a ser sede da Copa de 1942, novamente lançou sua candidatura, com a condição que a competição fosse realizada em 1950.

Em 1946, um novo Congresso da Fifa, em Luxemburgo, Jules Rimet chancelou a candidatura única brasileira e confirmou o país como anfitrião da Copa do Mundo de Futebol de 1950.

O Brasil começou seus preparativos.

As Sedes

Seis cidades brasileiras foram escolhidas como sedes:

Belo Horizonte - MG,
Curitiba - PR.
Porto Alegre - RS,
Recife - PE,
Rio de Janeiro - DF,
São Paulo - SP,

Os Estádios 

Logo a seguir, começou a discussão sobre os estádios que sediariam a Copa no Brasil.

Em maio de 1948, a dois anos do primeiro Campeonato Mundial de Futebol do pós-guerra, os preparativos para o torneio no Brasil seguem a passos de tartaruga.
Os cartolas da Federação estão preocupados.

O moderno estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo: - um dos poucos campos prontos para receber a Copa do Mundo.



Estamos agora a pouco mais de dois anos do início do certame – portanto, na metade do caminho entre a confirmação da entidade máxima do esporte e a data prevista para o pontapé inicial da partida de estréia.

– E o torcedor se pergunta: – Como andam os preparativos para receber as dezesseis nações da elite do esporte bretão?

– A resposta, infelizmente, é bem brasileira: – Não andam.

Ainda não foi montado sequer um comitê para tratar das inúmeras questões que envolvem a estruturação de tão complexo evento – nos bastidores da CBD - Confederação Brasileira de Desportos, é comentada a criação de um Diretório Geral destinado a cuidar do assunto, mas este ainda não saiu do papel.

– O tempo urge.

Além disso, a maioria das capitais brasileiras conta apenas com estádios de porte médio, sem a envergadura necessária para receber as pelejas do torneio máximo do futebol internacional.

Na verdade, dos seis estádios usados no Mundial, apenas dois (o Maracanã, no Rio de Janeiro, e o Independência, em Belo Horizonte) foram construídos especialmente para o Mundial.

Pacaimbú

– Em São Paulo, com o Pacaembu.  



Vila Capanema

– Em Curitiba, com o Durival Britto e Silva, modernas praças esportivas inauguradas nesta década, são as exceções.


Entrada do estádio

O Estádio Durival Britto e Silva (Vila Capanema) era pertencente ao então Clube Atlético Ferroviário (atual Paraná Clube), tinha capacidade, na época, para aproximadamente 10 mil pessoas e recebeu 2 jogos.

A Vila Capanema como é conhecida

Independencia

– Em Belo Horizonte, os estádios de América, Cruzeiro e Atlético são acanhados até mesmo para receber os torcedores das equipes locais; não à toa, o prefeito Otacílio Negrão de Lima, quando assumiu o cargo, destinou polpuda verba para solucionar o que classificou de "imperioso problema" dos estádios da capital mineira.

O pequeno Sete de Setembro de Futebol e Regatas aproveitou-se do oferecimento e começou a levantar uma praça esportiva projetada para acomodar 45.000 pessoas, mas as obras seguem em ritmo moroso – se ficarão prontas a tempo da Copa, é uma incógnita.


Construcão do Estádio Independencia

Eucalíptos

– Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional deu início a uma campanha para reformar sua casa, o Estádio dos Eucaliptos, com capacidade para 10.000 torcedores.


Projeto original dos Eucalíptos

O principal objetivo é transformar o pavilhão de madeira da rua Silveiro em uma arquibancada de concreto. Mas o projeto também não tem prazo para ser concluído.


Ficou assim o estádio

Colosso Polêmico - Maracana
­

– Rio de Janeiro, a maior preocupação, porém, vem do Distrito Federal. O futuro Estádio Municipal do Rio de Janeiro, o cartão-postal do campeonato mundial aos olhos do mundo, ainda não saiu da estaca zero. Previstos para o início deste ano, os trabalhos de construção do gigante do Maracanã não começaram, o que já causa apreensão entre os dirigentes da Fifa. 


Mário Filho (dir.) observa a maquete do projeto original do Maracanã, na década de 1940 
(Arquivo Maracanã)

Emissários da entidade devem desembarcar em breve no Rio de Janeiro a fim de acompanhar os próximos passos desta difícil gênese.

Afinal, o estádio vem sendo alvo de polêmica desde que a prefeitura anunciou a abertura da concorrência para sua construção – defendida em campanha popular encabeçada pelo cronista Mario Filho, do Jornal dos Sports.

O vereador Carlos Lacerda, da UDN, fez intensa oposição ao projeto na Câmara Municipal. O udenista não concordava com a localização da praça anunciada pela prefeitura (o antigo terreno do Derby Club) nem com sua capacidade (150.000 pessoas), preferindo um estádio de 60.000 lugares em Jacarepaguá. 

Colega de vereança e partido de Lacerda, o compositor Ary Barroso conseguiu apoio suficiente entre a bancada comunista e garantiu a aprovação do projeto.


Ary Barroso
Defensor do Maracanã

– Agora só resta tirar o colosso do papel.



Maracanã em obras

Selecão Brasileira

Alheio a essas pendengas, o técnico do escrete nacional, Flávio Costa, espera que a perda da Copa Rio Branco para o Uruguai, no mês passado, não abale o moral dos jogadores – que, a bem da verdade, terão muito tempo para esquecer esse revés.

O próximo compromisso oficial da seleção, o Campeonato Sul-Americano, a ser disputado também no Brasil, está marcado apenas para abril do ano que vem.

A grande novidade da participação brasileira em Montevidéu foi a estréia do guarda-metas Barbosa, que já vinha se destacando havia algum tempo com a camisa do Vasco da Gama. O atleta de 27 anos teve boa atuação no empate de 1 a 1 contra a Celeste Olímpica, e deve ameaçar a posição de Luiz Borracha, arqueiro do Flamengo, titular de Flávio Costa nos últimos três jogos da Seleção.

No prélio seguinte em terras meridionais, Luiz Borracha voltou à meta, mas não pôde evitar a derrota brasileira por 4 a 2 para os campeões mundiais de 1930. Olho neles.

Em 08 de Junho de 1950, o Brasil fez o último jogo treino antes da estréia na Copa do Mundo de Futebol de 1950, onde a Seleção Brasileira goleou a Seleção Gaúcha pelo placar de 6x4.

A ala esquerda no ataque: - Jair Rosa Pinto e Chico.

Em Porto Alegre

Até 1947, a obra do Estádio Municipal era dada como certa, aos poucos foi sendo abandonada, diante dos custos que acarretaria.



Até o início de 1948, os jornais debatiam sobre a construção do Estádio Municipal.
Os principais estádios de Porto Alegre, na época, eram a Baixada, do Grêmio, a Montanha, do Cruzeiro, a Timbaúva, do Força e Luz, e os Eucaliptos, do Internacional.

– O Estádio da Baixada era usada pelo Grêmio praticamente desde sua fundação, tendo sofrido reformas ao longo de quase 50 anos.
– O Estádio da Montanha era o mais recente, inaugurado em 1941.
– O Estádio Timbaúva era de 1935.
– O Estádio dos Eucaliptos, de 1931.

A CBD - Confederação Brasileira de Desportos, decidiu-se pelo Estádio dos Eucaliptos do Colorado, que teve de passar por reformas para sediar jogos da Copa.

Nota:
Desde 1944, o estádio do Internacional, chamava-se, oficialmente, Ildo Meneghetti, tinha capacidade para 10.000 pessoas, com um pavilhão de madeira no lado da rua Silveiro, e um pavilhão de concreto no lado oposto.

O Estádio dos Eucalíptos com as reformas, o pavilhão de madeira foi substituído por outro, de concreto, e a capacidade do estádio duplicada.

Estádio dos Eucaliptos, durante a Copa, 1950

Inicia a Copa do Mundo de Futebol – 1950


Os Eucaliptos sediaram duas partidas do Grupo A.

O Grupo A - Porto Alegre
México
Suiça
Iuguslávia

Em 29 de junho de 1950, ocorreu a primeira partida, entre Iugoslávia e México.

Era um jogo importante, pois um dia antes o Brasil, que já havia batido o México, empatara com a Suíça. Se a Iugoslávia, que havia derrotado os suíços, vencesse o México, assumiria a liderança do grupo e jogaria pelo empate, contra o Brasil, para decidir quem iria para o Quadrangular Final.

Apesar de contar com Carbajal, goleiro que tornaria-se recordista em Mundiais disputados (1950, 1954, 1958, 1962 e 1966), além de ser escolhido o melhor de sua posição da CONCACAF no século XX, o México não tinha condições de resistir ao bom futebol dos iugoslavos.

Na primeira etapa a Iugoslávia já vencia por 2x0, e acabaria fazendo 4x1, preocupando a torcida brasileira.

Jogo: 29/06/1950 - Iugoslávia 4x1 México

Juiz: Reginald J. Leafe (Inglaterra)

Público: 12.000

Gols: Bobek 20' e Čajkovski 23' do 1º; Čajkovski 6', Tomašsević 35' e Ortiz (pênalti) 44' do 2º

IUG: Mrkušić; Horvat, Stanković e Zl. Čajkovski; Jovanović e Djajić; Mihajlović, Mitić, Tomašević, Bobek e Čajkovski

MEX: Carbajal; Gutierrez, Gomez e Ruiz; Ochoa e Flores; Naranjo, Ortiz, Casarin, Peréz e Velasquez

A partida seguinte não atraiu muito a atenção da torcida porto-alegrense, eufórica com a classificação do Brasil.

No dia 1º de julho de 1950, o Brasil bateu a Iugoslávia e classificou-se para a fase final.

Em 02 de julho de 1950, no dia seguinte em Porto Alegre, bateriam-se México e Suíça, já eliminados.

Na hora da partida, um contratempo:
– " A Suíça jogava com um uniforme vermelho, e o México de grená. O árbitro sueco Ivan Eklind considerou que os uniformes eram muito parecidos, e exigiu que uma das equipes trocasse as camisas. Como nenhuma das seleções tinha uniforme reserva, foi feito um sorteio para decidir quem teria de arrumar um jogo de camisas emprestado. O México venceu o sorteio, mas como havia sido muito bem recebido na cidade, decidiu ele trocar de camisas e usar o uniforme de um dos clubes da capital gaúcha. O Internacional não poderia ser, pela cor (vermelho). A opção foi utilizar o uniforme do Cruzeiro (azul). Mas até buscar-se um jogo de camisas no Estádio da Montanha, a partida atrasou em 25 minutos."

Os mexicanos não conseguiram segurar os suíços, que garantiram sua única vitória na competição. Novamente, ainda na primeira etapa o México já havia levado dois gols.

Jogo: 02/07/1950 - Suíça 2x1 México

Juiz: Ivan Eklind (Súécia)

Gols: Bader 10' e Antenen 44' do 1º; Casarin 44' do 2º

SUI: Hug; Neury, Bocquet e Lusenti; Eggimann e Quinche; Antenen, Friedländer, Tamini, Bader e Fatton

MEX: Carbajal; Gutiérrez, Gomez e Ochoa; Ortiz e Roca; Flores, Naranjo, Casarin, Borbolla e Velázquez

O Adeus dos Mexicanos

Os mexicanos gostaram muito de Porto Alegre, principalmente da noite da cidade.
Assíduos frequentadores dos cabarés porto-alegrenses, em campo mal conseguiam correr.
Quando voltou ao México, a seleção foi dissolvida, por "comportamento inconveniente".
Poucos daqueles atletas voltariam a vestir a camisa mexicana.

A Copa do Mundo continua no centro do país

A Copa continuou, com Brasil, Espanha, Uruguai e Suécia ainda sonhando com o título.
O Brasil dava show, goleando Espanha e Suécia.

Quase ganhou o título por antecipação, pois na 2ª rodada o Uruguai, que já havia empatado com a Espanha, empatava com a Suécia até os 40' do 2º tempo, quando conseguiu a vitória que o manteve vivo.

No Rio de JANEIRO

– Maracanã, é a final da Copa do Mundo de Futebol, o Brasil precisava de um empate.

A Final


1 Barbosa • 2 Castilho • 3 Augusto • 4 Ely • 5 Juvenal • 6 Nena • 7 Nílton Santos • 8 Bauer • 9 Bigode • 10 Danilo • 11 Noronha • 12 Rui • 13 Adãozinho • 14 Ademir • 15 Alfredo II • 16 Baltasar • 17 Chico • 18 Friaça • 19 Jair • 20 Maneca • 21 Rodrigues • 22 Zizinho • Treinador: Costa


A Seleção Uruguaia posando antes da partida decisiva contra o Brasil em 1950.

Da esquerda para a direita, em pé: Varela, o técnico López, Tejera, dois membros da comissão técnica, Gambetta, Matías González, Máspoli, Rodríguez Andrade e outro membro da comissão técnica; agachados, um membro da comissão, Ghiggia, Julio Pérez, Míguez, Schiaffino, Morán e outro membro da comissão.

Inicia a Partida Final

O Brasil saiu ganhando.

Na última partida, contra o Uruguai, o Brasil podia empatar, saiu na frente, mas levou o gol da virada faltando 11 minutos para o final do jogo.

Foi o terrível "Maracanazo".

Desolados, os quase 200 mil torcedores demoraram mais de meia hora para deixar o estádio.

O time brasileiro fez trinta lances a gol (dezessete no primeiro tempo e treze no segundo).

Os jogadores cometeram quase o dobro de faltas, um total de 21, contra apenas onze do Uruguai.

Nota:
Jules Rimet, presidente da FIFA, não conseguiu entregar a taça ao Uruguai e decidiu se retirar.

Mas logo depois voltou e Obdulio Varela recebeu a taça. Rimet disse:
"Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas felicitações".

Nesta Copa, a Seleção Brasileira contou com dois colorados (Internacional), Adãozinho e Nena, que não atuaram em nenhuma partida.

FIFA

Em 1904, é fundada a entidade para organizar e liderar o futebol mundial.
Em 1921, Jules Rimet assumiu a presidência da FIFA.
Ele foi o terceiro presidente da entidade.

COPAS 

Até então, o único campeonato entre seleções em nível mundial no futebol era disputado a cada quatro anos por jogadores amadores durante os Jogos Olímpicos e estes campeões olímpicos eram tidos como campeões mundiais de futebol na época:

REINO UNIDO 1908 e 1912

BÉLGICA 1920  

URUGUAI 1924 e 1928

Mas o futebol não era uma das prioridades do Comitê Olímpico Internacional (COI) e Jules Rimet alimentou a ideia de criar um Mundial organizado pela FIFA.
Em 1928, a ideia foi levada e aprovada pelo Comitê da entidade na cidade holandesa de Amsterdam.
Foi escolhido o Uruguai para sediar o evento dois anos depois.

O TROFÉU

Foi encomendado pela FIFA um troféu para premiar a seleção campeã do mundo.
Jules Rimet ainda definiu que o país que conquistasse a Copa pela terceira vez, ganharia em definitivo a Taça do Mundo e seria criada uma outra.

A criação ficou sob a responsabilidade de um artesão francês chamado Abel Lafleur.

Em abril de 1929, a jóia ficou pronta e custou 50 mil francos. Consistia na representação da Nike, a deusa da vitória na mitologia grega. Com 3,8kg e 35cm, a imagem da deusa da vitória com os braços erguidos segurando um copo octogonal sob uma semi-circunferência com o nome FIFA gravado nela.

Tudo isso feito com ouro puro.
Abaixo havia uma base de lápis-lazuli, uma rara pedra preciosa que continha pequenas placas onde seriam gravados os nomes dos futuros campeões do mundo.

A VIAGEM DA TACA

Da sede da FIFA na França, o precioso troféu foi para a cidade italiana de Gênova de onde embarcou com Jules Rimet em um cofre para o Uruguai no navio italiano SS Conte Verde.

URUGUAI 1930

Em 1930, no caminho ao Uruguai embarcaram no mesmo navio as seleções da França, Romênia, Bélgica e Brasil, além de três árbitros que apitariam aquele Mundial, entre eles o da final: Jean Langenus.

Nota:
- O destino do navio que trouxe a Taça do Mundo não foi boa, pois foi abatido e afundou na Guerra durante a década de 1940.

 Jules Rimet entrega a Taça do Mundo para a Federação Uruguaia em 1930 após a conquista do Uruguai na grande final da primeira Copa do Mundo

Uruguaios comemorando a conquista com a Taça do Mundo

Após quatro anos cuidando do troféu, o Uruguai o entregou para a Itália para que fosse entregue ao próximo campeão do Mundo em 1934.

ITÁLIA 1934

A Itália, país sede, foi o campeão daquele ano.

Lado esquerdo, o goleiro e capitão italiano Combi recebe o troféu

Três primeiros colocados da Copa de 1934 recebem suas premiações.

No centro, o capitão da Itália segura a Taça do Mundo

FRANCA 1938

Em 1938, o troféu volta para a França onde foi disputado pela terceira vez e a Itália o conquista novamente.

Jules Rimet entrega o troféu para o capitão Meazza.

Jogadores italianos comemoram a conquista de 38 com o técnico italiano segurando orgulhosamente a cobiçada taça.

1942

Em 1942, a Copa estava cotada para ocorrer no Brasil ou Alemanha, mas a Segunda Guerra Mundial interrompeu este processo e a Copa foi cancelada.

O italiano Ottorino Barassi que era o então vice-presidente da FIFA escondeu a Taça do Mundo dentro de uma caixa de sapatos embaixo de sua cama, em Roma.

A Itália tinha sido invadida pelos alemães liderados por Adolf Hitler que diziam querer possuir a Taça do Mundo devido ao seu valor e para mostrar seu poder.

Após um tempo, Ottorino Barassi entregou o troféu para seu amigo Giovanni Mauro que a escondeu em sua casa de campo na cidade italiana de Brembate.
Após o fim da guerra, o troféu foi devolvido para a FIFA.

1946

Em 1946, também não foi organizada a Copa do Mundo ainda em virtude da Guerra.

O NOME DA TACA

Ainda em 1946, a Taça do Mundo mudou seu nome para Troféu Jules Rimet em homenagem ao seu idealizador.

BRASIL 1950

Com o fim da guerra e a Europa devastada, o Brasil recebeu a missão de organizar o próximo mundial em 1950.

A taça do Mundo sendo apresentada já em solo brasileiro.

Jules Rimet entrega o troféu para o capitão uruguaio após vitória do Uruguai sobre o Brasil no 
Estádio do Maracanã.

Uruguaios comemorando o título de 1950.

SUÍCA 1954

Em 1954, a Suíça sediou o torneio e a Alemanha conquistou o título.
Jules Rimet entrega a Taça do Mundo pela última vez, pois ele viria a falecer dois anos depois.

O capitão alemão celebra a conquista após a final.

Nota:
- É interessante observar a base do troféu de 1930 a 1954. Essa base foi substituída após a Copa de 1954 para uma maior para que coubesse mais placas com o campeão. Tal base ficou perdida até 2015 quando foi encontrada no porão da FIFA e levada para o museu da entidade.

SUÉCIA 1958

Em 1958, na Suécia, o Brasil conquistou pela primeira vez o Mundial e seu capitão Bellini, imortalizou um gesto ao “erguer pela primeira vez o Troféu do Mundo logo após recebê-la”.

- Dizia ele, que fez isso porque os fotógrafos que estavam mais atrás não conseguia ver o troféu e ao erguer todos puderam vê-lo.

É possível ver que o troféu teve sua base alterada, sendo aumentada um pouco. Especula-se que o troféu original possa ter sido perdido ou roubado pelos alemães um ano antes e por isso a mudança de base teria ocorrido. Tal fato jamais foi provado.

Seleção brasileira posa com o troféu

CHILE 1962

Em 1962, a Copa veio para o Chile, o Brasil a conquistou novamente.

Mauro recebe o troféu

INGLATERRA 1966

Antes da Copa de 1966, a taça do Mundo estava sendo exposta em Londres quando foi roubada em março.

Dias depois, um homem passeava com seu cachorro Pickles pelas ruas da capital inglesa, quando o cachorro farejou um embrulho de jornais perto de um arbusto. Seu dono teve uma enorme surpresa ao abrir o embrulho e encontrar a taça roubada. Logo, ele entregou para as autoridades policiais que se incumbiram de entregar para FIFA.

Imagens do troféu ainda preso aos jornais logo após ser encontrada

A polícia inglesa apresenta o troféu salvo

Meses depois, a Rainha da Inglaterra Elisabeth entregou o troféu para os campeões de 1966. Os ingleses conquistaram o campeonato dentro de sua casa.

MÉXICO 1970

Em 1970, no México, a Taça Jules Rimet seria entregue pela última vez, pois a final entre Itália e Brasil decidiria quem a conquistaria pela terceira vez e em consequência teria sua posse definitiva.

O Brasil venceu e conquistou o Tri-Campeonato.

Carlos Alberto Torres ergue o troféu

Carlos Alberto Torres imortalizou outro gesto ao receber a taça, olhou para ela e a deu um beijo.
Após ser exposta em diversas cidades do Brasil após a conquista, a Taça Jules Rimet foi colocada em local de destaque em uma das salas da sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Uma réplica foi mantida em um cofre.

ALEMANHA OCIDENTAL 1974

ARGENTINA 1978

ESPANHA 1982

O ROUBO DA TACA NO BRASIL

Em 1983, bandidos invadiram a sede da CBF no centro do Rio de Janeiro e roubou a Troféu Jules Rimet.

Imagens de onde ficava o troféu

As investigações foram intensas, os culpados localizados, as falhas grotescas de segurança foram localizadas. Mas o precioso troféu jamais foi encontrado. Especula-se que tenha sido derretido e seu ouro vendido.

Há boatos que tenha sido vendido para um colecionador ou ainda que esteja escondido em algum lugar até hoje.

A verdade é que o fato foi uma vergonha para o país do futebol e é uma mancha na história da Copa do Mundo.

AS DEMAIS TACAS ROUBADAS

Com a Jules Rimet foram roubadas da CBF outras três taças:
- Equitativa, conquistada pelo Brasil como vice-campeã do mundo em 1950;
- Jarrito de Ouro, pela conquista do II Campeonato Pan-Americano do México, em 1956,
- Taça Independência, conquistada em 1972, por ocasião do Torneio do Sesquicentenário da Independência.

A DEVOLUCAO

Em 19 de janeiro de 1984, a proposta de devolução das quatro taças roubadas, foi feita pela Kodak Brasileira, e aceita pela CBF.

Com a ajuda da J. W. Thompson, a empresa localizou os moldes originais da Taça Jules Rimet, feitos na Alemanha, em 1954, por Rudolf Schaeffer, na cidade de Hanau, perto de Frankfurt.
Dois meses de pesquisa e trabalhos intensos foram necessários para a reprodução exata da Taça Jules Rimet, com todas as suas características originais.

As outras três taças foram confeccionadas pelo artesão de jóias Frederic, no Brasil.
Com as novas taças já elaboradas, a Kodak elaborou um roteiro para que autoridades, representantes do futebol e a população pudessem rever esses ícones nacionais. O roteiro teve início com a apresentação das taças para o então presidente da República, João Figueiredo, que as recebeu das mãos dos três capitães da seleção brasileira ganhadores de mundiais a nova Taça Jules Rimet, na presença dos representantes da Kodak Brasileira, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Bradesco, responsável pelo seguro da nova taça.

Após a solenidade, houve um coquetel na Casa do Bradesco, onde a taça foi apresentada às demais autoridades, assim como à imprensa, aos jogadores das três seleções brasileiras campeãs do mundo.

A taça percorreu os roteiros: - Belo Horizonte, São Paulo, São José dos Campos, Curitiba, São Paulo (Pacaembu), Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 10 de junho de 1984, antes da partida amistosa Brasil x Inglaterra e durante as comemorações do 70º aniversário da CBF, a Taça Jules Rimet foi entregue oficialmente à Confederação Brasileira de Futebol.

Milhares de pessoas se emocionaram quando os três capitães ergueram de novo a Jules Rimet e a entregaram ao presidente da entidade, Giulite Coutinho.

Os capitães recebem a réplica e as exibem pelo país:

MÉXICO 1986

ITÁLIA 1990

ESTADOS UNIDOS 1994

FRANCA 1998

Em junho de 1997, um réplica foi oferecida em leilão por uma família inglesa. Estranhamente, FIFA e CBF tentaram comprar achando que pudesse ser a roubado em 1983.

A FIFA venceu o leilão pagando mais de 230 mil libras. Mais tarde, exames na peça comprovaram ser apenas uma bela réplica feita na década de 60 após o primeiro roubo e a conquista da Copa de 1966 pela Inglaterra.

Era o joalheiro George Bird quem fez a réplica em 1966 e após sua morte, sua família decidiu leiloá-la.

JAPAO/ CORÉIA DO SUL 2002

ALEMANHA 2006

ÁFICA DO SUL 2010

BRASIL 2014

No início de 2015, a FIFA encontrou nos seus porões, a base original do troféu que foi utilizada até a Copa de 1954 quando foi substituída por uma base maior, de oito lados, para caber mais placas com as gravações dos campeões.

Uma réplica idêntica do troféu ganhou a base original que foi restaurada após seu aparecimento.

MUSEU DA FIFA 2016

A peça está exposta no Museu da FIFA aberto em 2016, na Suíça.

RÚSSIA 2018

O LEGADO DE 1950

Nota:
- Leia a entrevista com Beatriz Ferrugia e Diego Salgado:

Brasil e Uruguai. Final da Copa de 50. O gol de Gighia aos 34 minutos do segundo tempo sacramentou a vitória uruguaia sobre a seleção brasileira na primeira Copa do Mundo realizada no Brasil.

Duzentas mil pessoas saíram cabisbaixas e em silêncio do Maracanã, no episódio que, segundo Nelson Rodrigues, inaugurou o “complexo de vira-latas” brasileiro.
Foi também nessa Copa, que a camisa da seleção deixou de ser branca para se tornar amarela.
Essas são as lembranças mais comuns sobre aquele torneio.

Mas aconteceu muito mais naquela Copa, como descobriram os quatro jornalistas que escreveram - “1950: O Preço de Uma Copa”: Beatriz Ferrugia, Diego Salgado, Gustavo Zucchi e Murilo Ximenes.  
O livro, que surgiu do Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Metodista, foi feito de forma independente, e ainda não foi publicado, mas já despertou o interesse de duas editoras.

“Quando você assume a responsabilidade de fazer um evento que já foi realizado, você tem que voltar os olhos para aquela experiência para fazer melhor no próximo. Mas as pessoas esqueceram da Copa de 50”

Afirma Beatriz ao explicar a motivação da equipe para realizar um levantamento histórico da preparação brasileira para receber a competição.

“O grande legado da Copa de 1950, se você for pensar bem, é só o Maracanã mesmo, que eu acredito que seria construído de qualquer jeito porque o Rio precisava de um estádio grande; fora disso não houve legado nenhum” diz Diego Salgado, que hoje cobre a preparação brasileira para 2014.

Com apenas seis cidades sede o evento exigiu uma preparação muito menor e a construção de apenas dois estádios (o Maracanã e o Independência, em Belo Horizonte), além da reforma de outros quatro. Não havia discussão de obras de mobilidade urbana, capacidade hoteleira ou sobre a condição dos aeroportos. Aliás, o Brasil nem era ainda o país do futebol.

Quais foram as etapas, o passo a passo para escrever esse livro?

Beatriz Farrugia – Foram seis meses de pesquisa aqui em São Paulo, porque eu e os outros três jornalistas somos daqui. Nesse período, pesquisamos dados sobre cada cidade que foi sede da Copa, mas houve uma rejeição ao trabalho por parte da própria universidade e dos orientadores, porque eles achavam que o projeto era muito ambicioso para o tempo que a gente tinha. Depois, viajamos para todas as cidades-sede e ficamos em média três dias em cada uma delas, quando entrevistávamos as fontes, os personagens e as pessoas que tiveram alguma relação com a Copa de 1950, além de pesquisar os arquivos históricos, sedes de jornais, bancos de dados. Tínhamos material para escrever um livro três vezes maior do que esse!

O Brasil ainda tinha uma vocação incipiente para o futebol. Qual foi o motivo da escolha do Brasil para ser sede da Copa de 50?

BF – Houve uma série de acontecimentos que levaram a essa escolha. Aconteceu a Segunda Guerra Mundial e nesse período não foi realizada a Copa. Então o Brasil foi escolhido depois da Segunda Guerra, quando os países da Europa estavam devastados e não tinham como abrigar um evento desse porte. Muitos países europeus sequer participaram da Copa por estarem destruídos, sem verbas ou sem condições de vir ao Brasil. Outros foram punidos por terem se aliado a Hitler e também não participaram. Então a ideia da Fifa para a Copa na época era que ela fosse feita na América do Sul. A comissão da Fifa visitou alguns países e acabou optando pelo Brasil.

Quais eram as exigências da Fifa para que um país sediasse uma Copa naquela época?

BF – Eram bem menores. Não dá para comparar com as exigências que temos hoje. Havia uma vistoria nos estádios. Então eles pediam um determinado tamanho para o campo de futebol, exigiam uma área para jornalistas, um vestiário adequado, nada mais do que isso.

Entrando mais na questão central do livro agora. Diego, você está cobrindo os preparativos para a Copa de 2014. Qual é o paralelo que você traça tendo feito a pesquisa a respeito dos preparativos para a Copa de 1950 com os preparativos da Copa hoje em dia?

Diego Salgado – A começar pelos gastos, os da Copa de 1950 são bem inferiores aos da Copa de 2014. Em 50, apesar do Brasil ter sido escolhido quatro anos antes, no dia 25 de junho de 1946, a preparação foi muito tardia, não foi planejada detalhadamente pelo governo. Em 2014, apesar dos erros, você vê planejamento. Por exemplo, a Matriz de Responsabilidade, apesar de não ser totalmente seguida, é planejamento. E em 1950, por ser apenas a quarta edição da Copa do Mundo, não teve essa preocupação por parte da Fifa. Isso começou a ocorrer na década de 1970, na Copa da Alemanha (1974) e da Argentina (1978). Analisando os jornais e as informações que conseguimos nas cidades-sede, essa preparação por parte do governo brasileiro foi feita praticamente em 1950, a partir do mês de janeiro, com exceção das obras do Maracanã que começaram em 1948.

E como deu tempo?

DS – Dos seis estádios que foram usados na Copa de 1950, apenas dois foram construídos: o Maracanã e o estádio Independência, em Belo Horizonte. Quatro eram estádios que já existiam desde a década de 1930, com exceção de Curitiba cujo estádio ficou pronto em 1947, um pouquinho depois da escolha, e como era quase novo, foi usado para a Copa do Mundo.

Como foi o financiamento da Copa de 1950? Foi basicamente com dinheiro público?

DS – Não dá para você dividir entre investimento público e privado. Na Copa de 1950, foram gastos, passando de cruzeiro para real e de réis para real, 400 milhões de reais. Esse valor é irrisório se você comparar com os gastos da Copa de hoje. Dá 67 vezes menos. A Copa do Mundo hoje no Brasil está estimada em 27 bilhões de reais, segundo a Matriz de Responsabilidade, com obras de mobilidade, nos aeroportos e estádios, que já estão sendo realizadas. Ainda vão entrar as matrizes de segurança e de telecomunicações. Se você pegar hoje esses 27 bi e analisar a questão dos aeroportos, são 31 obras em 13 aeroportos de Copa do Mundo nas doze cidades-sede, mais Viracopos [que fica em Campinas mas também será usado na Copa]. Com a privatização que ocorreu no início do ano, metade dos 7 bilhões que serão gastos em aeroportos virá da iniciativa privada e outra metade da Infraero. Na Copa de 1950 não dá para fazer essa divisão entre dinheiro público e privado. O Maracanã foi construído com dinheiro público, porque é um estádio municipal. As adequações que foram feitas no Pacaembu a partir de 1949 também foram feitas com dinheiro público. Mas, por exemplo, em Curitiba não dá para mensurar quanto custou o estádio porque foram doações. Ele foi construído ao lado de uma linha de trem e todo o material que foi necessário para a construção do estádio foi doado. É certo que o Maracanã foi o estádio mais caro da Copa, custou 215 milhões de reais, se você fizer a conversão, 150 milhões de cruzeiros na época. E esse dinheiro foi totalmente público.

Houve algum tipo de jogo político na escolha das sedes naquela época?

BF – A Copa de 1950 foi organizada de maneira mais amadora. Algumas cidades já estavam definidas como sede um ano antes. Outras foram decididas dois meses antes. E outras ainda foram decididas por questões puramente políticas. Se havia um candidato que queria ganhar notoriedade com os eleitores, fazia um jogo político para conseguir ter jogos da Copa na capital daquele estado.

Vocês poderiam dar um exemplo desse jogo político?

DS – Para a construção do Maracanã, aconteceu uma briga entre dois políticos famosos no Rio de Janeiro na época, Carlos Lacerda e Mendes de Morais. Este era o prefeito à época da construção do Maracanã, na segunda metade da década de 40 [foi prefeito do Rio entre os anos de 1947 e 1951] e o Carlos Lacerda era opositor e queria ser o pai da construção do Maracanã. Lacerda fez de tudo para que o estádio fosse construído sob a sua batuta, ele queria que o ele fosse feito em Jacarepaguá, longe do centro. Aí o Mendes de Morais tomou a frente da situação e, como prefeito do Rio de Janeiro, definiu o local da construção e foi o verdadeiro pai do Maracanã. Tanto que o nome oficial do Maracanã era estádio Mendes de Morais, só depois mudou para o nome atual, Jornalista Mário Filho [irmão de Nelson Rodrigues], na década de 1960. Então a construção do Maracanã mostra bem essa guerra política para ver quem ficaria com os louros da construção do estádio: o Mendes de Morais ou o Carlos Lacerda, que depois veio até a se tornar governador do estado da Guanabara. O Maracanã é um exemplo específico de que a Copa de 1950 teve essa conotação política bem clara.

E vocês viram na Copa do Mundo um esforço em se fazer uma representação política daquele momento histórico no exterior? Há algum paralelo com o momento atual da realização da Copa?

DS – Hoje em dia isso é inegável. O Brasil se preocupa com isso apesar de alguns erros na preparação, como eu disse. Há essa preocupação com a imagem passada ao exterior. Até porque hoje a Copa do Mundo é uma vitrine e o maior evento midiático do planeta. Mas em 1950 não havia tanto essa preocupação. Era muito mais usar a Copa com fins partidários e políticos, como aconteceu no caso do Maracanã, do que ser uma vitrine para o mundo. Naquela época era mais uma motivação de política interna, dentro desse jogo de interesses entre os políticos locais, e hoje é mais uma preocupação de política externa, de representação do Brasil para o mundo.

Entre os estádios reformados, há uma história curiosa que é a do estádio do Sport, no Recife. Vocês poderiam contar esse caso?

DS – No Recife, o estádio era da década de 1930. E para fazer parte da Copa do Mundo, em março e abril de 50, os próprios sócios do Sport Recife resolveram colocar a mão na massa e reformar o estádio. Mas o local recebeu apenas um jogo da Copa, que foi entre Chile e Estados Unidos, vencido por 5 a 2 pelo Chile. A Fifa incluiu Recife e Porto Alegre 50 a 60 dias antes da Copa do Mundo.

Algum outro caso que vocês se lembrem?

BF – Tem também o caso do estádio Indepedência em Belo Horizonte. Tinha um juiz na cidade, um juiz de futebol que também acumulava funções como funcionário público chamado Raimundo Sampaio, que faleceu em 1984, mas dedicou a vida inteira ao estádio. Chegava a tirar dinheiro de casa para pagar as obras. Ele era dirigente de um clube chamado Sete de Setembro, que construiu o estádio, daí o nome do estádio ser Independência. O Independência foi comprado pelo América e a família desse juiz mantém hoje uma briga com o clube porque quer entrar no estádio, participar da renda dos jogos, e o América não deixa. Enfim, uma história bem complicada e diferente envolvendo esse estádio.
Outra história bacana é a do Ferroviários, estádio de Curitiba que foi construído aos poucos porque era um campinho onde funcionários de uma empresa ferroviária jogavam uma pelada no fim do expediente. E eles sempre paravam os trens que passavam levando mercadoria para aquela região para pedir sobras de madeira, ferro etc. para construir o próprio estádio. Foi construído assim! E depois foi reformado e usado na Copa de 50. Até hoje tem um relógio enorme no estádio, que foi doação de uma das empresas naquela época.

Houve problemas de prazo na entrega das obras? Algo foi entregue inacabado?

BF – Há um boato, por exemplo, e nós conseguimos levantar até alguns documentos sobre isso, que o Maracanã foi entregue sem que as obras estivessem totalmente concluídas. Só que a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) negou na época e o próprio governo do Rio também. Nós conseguimos uma foto de um jogo que teria sido um dos primeiros, e nela há alguns alambrados, mostrando que a construção ainda não estava totalmente concluída. Então há indícios de que muita coisa foi entregue sem ter sido finalizada em 50, o que pode se repetir agora em 2014.
DS – Vou te explicar bem o que aconteceu. A gente tinha uma foto que não sabíamos se era do dia 16 de junho de 1950 ou do dia 24 de junho de 1950. 16 de junho foi a data de abertura do Maracanã, com o jogo da Seleção Paulista contra a Seleção Carioca. E no dia 24 de junho foi a abertura da Copa, com o jogo Brasil e México. Se essa foto fosse do dia 24 de junho, seria uma prova de que a Copa começou com o Maracanã em obras. Se essa foto fosse do dia 16, a gente não teria essa prova de que a Copa começou com o Maracanã em obras. Tentamos analisar, puxamos a foto em alta resolução, aproximamos e vimos que tinha uma delegação dando a volta no estádio nessa foto. Só que aí, com as fontes, vimos que essa foto é do dia 16 e não do dia 24. Mas a foto mostra andaimes, na arquibancada, e eles usaram os andaimes pra quê? Para segurar a cobertura do Maracanã, porque ela não estava seca ainda. Com os andaimes eles tinham que esperar secar todo aquele concreto para depois tirar os andaimes e o estádio ficar com a cobertura intata. Mas a foto é do dia 16. Isso não quer dizer que o estádio estivesse totalmente pronto no dia 24. Por exemplo, no dia 24, na abertura da Copa tinha lama, barro, material de construção em volta do estádio. Mas a foto com os andaimes é do dia 16, tirada oito dias antes da Copa do Mundo.

Vocês acham que é possível isso se repetir e termos alguma obra inacabada em 2014? Não falo apenas de estádios, mas obras de mobilidade urbana, aeroportos, etc.

DS – A menor preocupação, pelo menos da gente que acompanha o dia a dia, são os estádios. Todos vão ficar prontos, não sei se na data determinada. Por exemplo, em fevereiro de 2013 o Maracanã tem que estar pronto. Eu não acredito que o Maracanã vai estar pronto nessa data. Ele vai estar pronto em mais ou menos em maio, às vésperas da Copa das Confederações [a competição começa no dia 15 de junho de 2013]. Um estádio da Copa do Mundo, a Arena das Dunas, em Natal, que é o estádio mais atrasado hoje, com 33% de obras concluídas, ele vai estar pronto também, mas não em dezembro de 2013, como estava estipulado. A Copa começa em junho e o estádio vai estar pronto em abril mais ou menos, na minha opinião. Acho que a gente não precisa se preocupar com a execução dos estádios. O grande problema da Copa do Mundo vai ser com os aeroportos e com as obras de mobilidade urbana. Com relação aos aeroportos, mesmo se não tivesse Copa, estaríamos enfrentando problemas de capacidade e demanda. Tem aeroporto que corre o risco de ter obras em andamento na abertura da Copa [em Natal, por exemplo, está prevista a construção de um aeroporto nos arredores da cidade, mas a obra nem começou ainda]. Então os grandes problemas da Copa são aeroportos e mobilidade urbana. Um exemplo: o VLT de Brasília, que estava previsto na Matriz de Responsabilidades, não vai estar pronto para a Copa do Mundo. O próprio governo já disse isso e a obra foi incluída no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas sem o prazo anterior. Em São Paulo também tem o caso do monotrilho que vai ligar estádio do Morumbi ao aeroporto de Congonhas, estava previsto na Matriz porque o Morumbi era o estádio paulista da Copa, o Morumbi saiu e esse projeto continua na Matriz, mesmo sem ter nada a ver com a Copa do Mundo até agora. As obras viárias de Itaquera são muito mais importantes, por exemplo.

Hoje sabemos que a Copa tem certo custo social. Como, por exemplo, as famílias que são removidas para dar lugar a obras da competição. Isso aconteceu na Copa de 1950?

DS – No Maracanã algumas casas tiveram que ser demolidas numa rua próxima, uma rua pequena que era sem saída e tiveram que abrir essa rua para ter saída para o outro lado. E aí removeram algumas famílias dali. E logo depois, apareceu uma favela ali ao lado, é até um caso curioso porque os restos do Maracanã foram usados nas construções. Chamava Favela do Esqueleto. Hoje ela não existe mais porque foi removida no governo do Carlos Lacerda em 1960. E esse pessoal foi levado para a Cidade de Deus, um lugar bem afastado, que era a política do Lacerda na época.

Pesquisando os preparativos para a Copa de 1950, vocês acham que ficou algum aprendizado? Há um esforço para aprender com o passado?

DS – [A Copa de 50] É uma história meio esquecida. Até para a gente que mergulhou de cabeça, teve muito trabalho para conseguir esses números. Acho que o governo brasileiro sabe que a Copa foi aqui, lógico, mas ela é muito mais lembrada por conta da derrota do Brasil para o Uruguai. Acho que o grande legado da Copa de 50 foi o Maracanã mesmo. Maracanã que em 2014 vai também ser palco da final. Portanto a Copa de 50 não teve legado nenhum, porque acho que o Maracanã iria ser erguido de qualquer forma. O Rio de Janeiro pedia um estádio grande. E não vejo nenhuma preocupação do governo em enxergar o passado ou os erros de 50 para não repeti-los. Mas são épocas diferentes. Não sei se o governo tivesse essa preocupação, conseguiria evitar algum tipo de erro em 2014. Mudou muita coisa.
BF – Quando você assume a responsabilidade de fazer um evento que já foi realizado, tem que voltar os olhos para o que aconteceu no passado e fazer melhor no próximo. Mas as pessoas esqueceram a Copa de 1950. Parece que a Copa de 2014 vai ser a primeira a ser realizada no Brasil.

Para fechar: qual foi a importância da Copa do Mundo para o desenvolvimento do futebol brasileiro?


DS – O futebol já movia massas, vou te dar um exemplo: Na estreia do Leônidas da Silva [conhecido como “Diamante Negro”, o craque da primeira metade do século XX com passagens vitoriosas por São Paulo e Botafogo, a quem é atribuída a invenção do gol de bicicleta] em 1942, 74 mil pessoas foram ao estádio. Mas a Copa do Mundo não suscitou a ânsia do torcedor de ir ao estádio. A não ser no Maracanã. Somente nos jogos do Brasil os estádios lotavam. O futebol ainda começava a se tornar o esporte número um do Brasil. Se você pegasse o jornal da época, tinha um espaço maior para o turfe do que para o futebol. Então acho que a Copa de 50 deu o pontapé inicial mesmo. E com a derrota na Copa do Mundo, o Brasil começou a ter um gosto maior pelo futebol. Como eu disse, já havia indícios disso na estreia do Leônidas, mas era uma coisa muito incipiente. Especialmente na década de 50 o futebol começou a cair no gosto do público. Dentro de campo muita gente até diz que a derrota de 1950 foi importante para o Brasil mudar a postura. O Brasil entrou com uma soberba absurda contra o Uruguai, achando que já tinha vencido a Copa do Mundo. Tinha vencido por 7 a 1 a Suécia, por 6 a 1 a Espanha, precisava de um empate contra o Uruguai e entrou no Maracanã com 200 mil pessoas, achando que iria ganhar a qualquer momento. A Seleção Brasileira ficou mais humilde a partir daí. Foi um pontapé inicial para o Brasil virar uma potência, o que só começou com o primeiro título, em 1958.